Em carta dirigida aos jovens da diocese do Porto, D. Manuel Linda propõe como objetivo “que se encontrem novas dinâmicas, novas linguagens e novos caminhos para os tempos atuais e futuros da Igreja do Porto”

Carta ao Jovens Diocese do Porto

Porto, que procuras? “Vinde e vede”.

Cara/o jovem,

imagina que, sem mais, alguém chega ao pé de ti e te pergunta: “Que procuras?”.

Se tivesses de dar uma resposta imediata e se soubesses que dessa resposta dependeria o sentido da tua vida a partir desse momento, que sentirias? Certamente, tomaria posse de ti uma certa angústia e ficarias desorientado, perturbado, atordoado.

Pois bem, essa pergunta é-te feita continuamente. Mas as condições são outras: tens mais tempo para conhecer quem te interroga, mais tempo para refletires, mais tempo para te confrontares com amigos e colegas a quem, curiosamente, a questão também é colocada. E, fundamentalmente, tomarás consciência de que serás escutado por quem te fez a pergunta e descobrirás as razões pelas quais, de facto, a resposta a essa questão poderá ser transformadora da tua existência, bem como da dos teus amigos e companheiros de caminhada. E até de muitas outras pessoas.

  1. Diocese importunadora

“Porto, que procuras?” – é a pergunta com que, em nome de Deus, a Diocese do Porto te pretende confrontar. Propõe-se, de facto, realizar um longo processo de escuta de ti e dos demais jovens que a constituem. Seguir-se-á um processo semelhante ao que os discípulos de Jesus percorreram até se «tornarem d’Ele».

Conta o evangelista que, dois homens ouviram João Batista dizer que Jesus é o Salvador. E aproximaram-se. Depois, perguntaram-Lhe: “Mestre, onde moras?”. E Jesus disse-lhes apenas: “Vinde e vede”. E eles foram (cf. Jo 1, 38-40). Porque assim, não ficaram apenas com ideias, informações vagas. Mas fizeram a experiência dos lugares, afetos e pessoas ligadas a Jesus. Curiosamente, foi a partir do que viram, e não apenas do que lhes foi dito, que eles começaram logo a «lançar as redes». Concretamente a Simão Pedro, que entrou no grupo por iniciativa dos tais que «foram e viram».

Da mesma forma, a Diocese do Porto muito gostaria que, em liberdade e lisura, sob a iluminação do Espírito Santo que trabalha a tua interioridade ou consciência, de preferência em grupo de pares, te dispusesses a dizer o que procuras e o que te parece que os outros procuram. E que é que sentes como resposta Àquele que te desafia: “Vinde e vede”.

A este processo vamos dar esta designação: “Porto, que procuras? Vinde e vede”. As palavras do Evangelho de São João constituem fonte de inspiração para este tempo de escuta e reflexão que nos propomos realizar. Mas realizar como Igreja Diocesana. Introduzem-nos na aventura de estar disposto a procurar e a deixar-se procurar. Na aventura de deixar que venham, mas também a de ir. Na aventura da coragem de ver, mas também na de permitir ser visto. Sem filtros nem maquilhagens.

  1. O processo

Evidentemente, nestes assuntos, tem de haver um âmbito mais ou menos delimitado. Pretende-se, pois, promover e fazer acontecer vários momentos de encontro, de trabalho, de reflexão em ordem a um conhecimento real da nossa Diocese. Com um objetivo: que se encontrem novas dinâmicas, novas linguagens e novos caminhos para os tempos atuais e futuros da Igreja do Porto.

Deseja-se direcionar esta escuta e reflexão para as questões pastorais e organizacionais da Diocese e, evidentemente, não para conteúdos dos dogmas da Fé ou assuntos doutrinais. Nestes, nem a Diocese, nem os Bispos, nem a totalidade dos fiéis podem alterar o que é «constitucional». Só podemos caminhar no seio da Igreja universal.

Como ponto de partida, queremos perguntar-te o que gostarias de ver trabalhado neste processo. Que questões desperta este tema do “Porto, que procuras? Vinde e vede”? E quais as mais urgentes para reflexão? Olhando para a forma organizativa e pastoral da Diocese, olhando para os seus Secretariados, Departamentos, Vigararias, Paróquias, Associações de Leigos e outros, que questões e consequentes respostas para o «Agora de Deus» se poder realizar?

Depois da recolha das perguntas/sugestões que forem enviadas selecionam-se algumas: cerca de dez de entre as mais referidas e oportunas. Posteriormente, em cada mês ou outro espaço de tempo que se julgue adequado, «liberta-se» um desses temas para serem refletidos e aprofundados por todos os grupos. Recolhem-se as respostas e, a equipa central, começa a elaborar as sínteses. Finalmente, quando todos os temas estiverem trabalhados, faz-se uma síntese global com textos orientadores que, depois de aprovados numa assembleia com representantes dos grupos acima referidos, serão entregues ao Bispo para que possa, a partir deles, dar seguimento às sugestões referidas.

A questão inicial e as outras, para aprofundamento, serão trabalhadas em locais de reflexão e escuta, tais como Escolas Secundárias, Universidades, Agrupamentos de Escutismo, Vigararias, grupos de jovens paroquiais, jovens dos vários movimentos e obras eclesiais, etc. E quantos desejem participar. Mesmo de jovens que não se identifiquem com a nossa fé.

De facto, há espaço para grupos de não-crentes. Como o há para setores mais delimitados pela área de formação ou específicas questões que estas colocam à vida da Fé: profissionais de saúde, filósofos, psicólogos, economistas, sociólogos, teólogos, gestores e empresários, etc.

  1. Em ordem a um encontro existencial

Repara que este processo não se destina somente a descobrir «fórmulas pastorais». Muito menos, «fórmulas mágicas». O objetivo final é despertar o encontro com Jesus Cristo e facilitar os cristãos da nossa Diocese a igual união. Um encontro «existencial», como refere a Comunidade de Taizé: “Jesus apercebe-se de que é seguido. É um momento crucial. Ele volta-se e pergunta: «O que procurais?» Questão fundamental e universal, válida para um cristão como para qualquer ser humano. Vivemos num mundo onde podemos escolher entre mil possibilidades. Sabemos verdadeiramente o que queremos? Estamos conscientes do nosso desejo mais profundo e mais sincero? A questão pode parecer simples, mas, se a levarmos a sério, a resposta pode transformar a nossa vida”.

Questão que traz consequências: “Jesus responde aos discípulos: «Vinde e vereis». Se eles quiserem entrar neste espaço único onde mora Jesus, devem assumir um risco, o risco de confiar, o risco da fé. A fé é, antes de mais, uma resposta, uma ida na direção de Alguém. A fé põe-nos a caminho, permite-nos prosseguir. O evangelista diz-nos que, nesse dia, os discípulos ficaram com Jesus. Sobre o que conversaram? Não sabemos. O que sabemos é que este encontro com Jesus transformou completamente a sua existência. Os que estão prontos a abrir a suas vidas podem encontrar alguém que modifica o curso da sua história”.

Um apelo

Caros jovens e vós, os seus animadores,

muitas vezes, depois da exposição de um assunto, costumamos lançar-vos este desafio: “Posso contar convosco?”. É o que agora ousamos repetir mais uma vez: podemos contar com “todos, todos, todos”? Com os que procuram e já encontraram, com os que procuram e não encontram e com os que não procuram, por desinteresse ou desencanto?

Procuremos, sem medos, uma escuta ativa. Vamos sem preconceitos. Anotemos o que o Espírito diz à Igreja do Porto por vosso intermédio. Que ninguém se sinta desvalorizado ou preterido. Vamos! Somos “Igreja em saída”. Em saída até da nossa zona de conforto, dos nossos medos e da nossa indiferença. Vamos com Ele porque Ele está a passar!