Nem sempre é preciso que comece a chover, para perceber que ela vai chegar… Ou basta um sol poente bem pitoresco para prever um dia solarengo. E são muitos mais os sinais que ditam à sabedoria popular indicadores suficiente para perceber que… o tempo está mudar…

Sabedoria de mulheres e homens que se acumulou ao longo de gerações? Sim! Mas também o realismo do que se observa e persente, a possibilidade de perspetivar o amanhã, o futuro, a partir de dados do presente, do que se vê, do que acontece.

Tudo isto a propósito do tempo. E não só: também a propósito de um projeto que a Diocese do Porto está a levar por diante, já há alguns anos: “Escutar Deus na voz dos jovens”.

Em março 2018, o Papa Francisco convocou jovens de todo o mundo para se encontrarem com ele, em Roma, para os ouvir; depois, em outubro desse ano, seguiu-se um sínodo, uma reunião de bispos de todo o mundo sobre o tema da juventude, onde também participaram jovens; as conclusões destes diálogos inspiram o documento que o Papa escreveu e dirigiu aos jovens, há 5 anos, intitulado “Cristo Vive”.

Tudo isto para repetir uma afirmação essencial: a Igreja Católica quer abrir espaços de presença para os jovens e tempos de escuta dos seus desafios, anseios e projetos.

Depois, acontecimentos de maior ou menor escala deram continuidade a este propósito, nomeadamente a Jornada Mundial da Juventude que aconteceu no Panamá, em 2019, e em Lisboa, em 2023. E também o projeto que está em curso na Diocese do Porto, por iniciativa do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil: “Escutar Deus na voz dos jovens”.

Tomei contacto com este projeto em abril de 2023 quando mais de 1000 jovens se reuniram no auditório da Casa Diocesana de Vilar para dialogar com o bispo diocesano sobre os seus projetos para a Igreja, as suas perspetivas de mudança para as comunidades onde estavam inseridos e adiantar ideias que, na opinião de cada uma e da cada um, eram relevantes para viver “o agora de Deus”, para o encontro com Cristo Vivo”.

Depois, entre janeiro e março de 2024, quatro encontros decorreram noutros tantos pontos pontos da diocese, nas várias regiões pastorais, e foram uma ocasião para sentir a continuidade desse dinamismo, em duas perspetivas: por um lado, os jovens permanecem nessa determinação de, também com o impulso da Jornada Mundial da Juventude, participar, dar ideias, apontar para objetivos de acolhimento de todos, contribuir para o diálogo entre gerações, entre quem olha para a experiência crente a partir da instituição, da Igreja Católica, e os que a observam desde o exterior e procuram espaços e tempos de inserção e participação. Por outro, estes encontros mostram que se esbatem os púlpitos, os locais  de onde se fala, em ambiente da Igreja, para todos, e promovem-se diálogos ao mesmo nível, entre pares, entre os jovens e quem tem responsabilidades na coordenação e dinamização da comunidade, na Diocese do Porto, nas paróquias, nos movimentos, nos organismos diocesanos, e fala-se de igual para igual.

“Escutar Deus na Voz dos Jovens” é uma possibilidade de, através do diálogo, desenhar o hoje e o amanhã, procurar e comprometer-se com mudanças que mais não são do que uma conversão ao “agora de Deus”. O elevado número de jovens que participaram nos quatro encontros comprovam-no, assim como a organização de cada deles, e sobretudo a participação dos jovem, as ideias que foram apresentando, as propostas que apontavam, os sonhos para o futuro e os compromissos em que se gostariam de ver envolvidos.

“Escutar Deus na voz dos jovens” é um relevante indicador para mostrar que, no que diz respeito à presença e participação dos jovens na Igreja, o tempo está a mudar.

Paulo Rocha, diretor da Agência Ecclesia